Vila Chã
Para melhor conhecermos o Monte de São Lourenço e interpretar toda a área geográfico-arqueológica do concelho, o melhor será visitar o Centro Interpretativo de São Lourenço, um equipamento cultural com valências de exposição e serviços. A partir do Centro Interpretativo, o visitante poderá sair à descoberta da história local, com visitas ao Castro de S. Lourenço, bem como ao restante património histórico e arqueológico de Esposende, com especial destaque para a riqueza arqueológica do planalto de Vila Chã. As duas áreas expositivas do Centro Interpretativo apostam num percurso entre o passado, o presente e o futuro. Apresentam temas como a evolução do território e dos hominídeos, estimulam para a descoberta do modus vivendi de há 2 000 anos, nomeadamente animais e plantas utilizadas pelos galaicos e despertam para o valor da Arqueologia, através da exposição de objetos de ocupações humanas ancestrais.
O Castro de S. Lourenço foi edificado por povos da Idade do Ferro, no alto de uma das elevações da arriba fóssil – uma cadeia rochosa que se desenvolve paralelamente à linha da costa atlântica. O monte onde se encontra o Castro conheceu a cristianização, como é habitual em monumentos desta natureza, com a edificação de uma capela na antiga acrópole – a Capela de S. Lourenço. As antigas construções do povoado foram devastadas ao longo dos séculos, em larga parte da sua original extensão, fundamentalmente devido à recolha de pedra e a terraplanagens. Ainda assim, é possível ter uma ideia razoável de como seria o povoado aquando da sua edificação: era protegido por duas ordens de muralhas e as habitações originais seriam de planta sub-circular, ocupando as encostas em socalcos firmados por muros de suporte. A romanização trouxe as casas de planta rectangular, a tégula (telha romana), as cerâmicas romanas produzidas em paragens longínquas e as moedas. Foi possível identificar um tesouro romano de dezanove moedas de prata da época republicana e uma moeda de Constantino, do século IV d.C. Este último achado prova a utilização do povoado numa data muito avançada, por meados do primeiro milénio. Chegar aqui acima não é fácil! Hoje, de automóvel, nem notamos a subida, mas há menos de meio século vir aqui implicava, para muitos, uns bons 3 quilómetros sempre a subir, o que não impedia as gentes das redondezas de vir a S. Lourenço, desde pelo menos o século XVI, notícia mais antiga que se conhece desta capela.
Nas imediações do Castro São Lourenço não deixe de visitar a Capela de São Lourenço e admirar a paisagem no miradouro. A atual Capela de S. Lourenço, construída na década de 1940, substituiu um outro templo bem mais antigo, provavelmente datado dos séculos XV ou XVI. Este é um templo de organização simples, de planta retangular, com fachada voltada a poente, com duas sacristias e uma torre sineira, na fachada ocidental. As promessas que os devotos aqui vêm cumprir relacionam-se com males da cabeça, dos dentes e de ordem terapêutica.
O miradouro de São Lourenço é um ponto privilegiado, uma vez que avistamos uma vastidão em redor! Estamos num dos pontos mais altos da arriba fóssil, essa linha de penedia que separa a planície litoral dos primeiros relevos mais a nascente. Para os lados do Mar, podemos alongar a vista até Esposende e Fão e, se apurarmos o olhar e a bruma atlântica não nos dificultar a visão, distinguimos os célebres “Cavalos de Fão”, aqueles rochedos sempre batidos pelas ondas, brancos de espuma quando o mar aperta. Se seguirmos o olhar para o interior, pela linha marcada pelo Cávado, percebemos a sua sinuosa e fértil passagem pelos campos a que dá vida e frescura. Lá muito ao longe, os moinhos de S. Félix. Mais perto de nós, um outro cabeço como aquele em que nos encontramos, o Monte de Faro. Mas a paisagem a nascente também tem os seus encantos. Por mais de três dezenas de quilómetros, se o tempo ajudar, distinguimos uma boa parte da topografia deste Minho, até ao Sameiro, já para os lados de Braga. E a norte, outro ponto alto, mais um promontório da arriba fóssil, o Monte do Facho.
A mamoa ou Dólmen do Rapído encontra-se junto da estrada camarária que liga a freguesia de Vila Chã à de Antas. Está inserido num conjunto megalítico formado por três mamoas. Trata-se de um monumento constituído por uma mamoa de terra cobrindo um dólmen, bem conservado, de reduzidas dimensões. É formado por uma pequena câmara funerária, definida por nove esteios, com um corredor, bastante baixo, que apresenta, ainda, duas das lajes de cobertura. Alguns dos seus esteios revelam vestígios de gravuras. Este monumento data do III milénio a.C. e foi edificado por povos que se dedicavam, fundamentalmente, à pastorícia. Os dólmenes ou antas eram os locais de deposição dos mortos.
Estes monumentos eram constituídos por uma câmara funerária formada por megálitos – esteios de pedra – verticalmente colocados e fixados, sobre os quais eram colocadas outras lajes de pedra que faziam de cobertura. Depois, todo o conjunto era coberto por terra, formando uma calote esférica. Muitas vezes esse monte – também chamado “mamoa” – era coberto por pedras de pequenas dimensões – a “couraça”.
A mamoa ou Dólmen da Portelagem é um dos monumentos do litoral norte português mais vezes referenciados na bibliografia especializada. Apresenta uma câmara funerária constituída por nove esteios graníticos e parte da laje de cobertura. Possui restos de um pequeno corredor e rodeando as lajes da câmara são visíveis as pequenas pedras do contraforte. Revelou ténues vestígios de insculturas rupestres. Do seu espólio é de referir um vaso cerâmico mamilado, bem como várias pontas de seta e facas de sílex.